terça-feira, 10 de maio de 2011

FILOSOFIA BRASILEIRA E PENSAMENTO LATINO-AMERICANO

Não se trata aqui de uma investigação rigorosa a respeito de como a história da filosofia no Brasil e na América latina se desenvolveram ao longo do tempo. São mais constatações sob a hipótese de que pensadores brasileiros e latino-americanos têm e tiveram percepções dos objetos ou problemas da Filosofia distintos do europeu, no sentido de que o sujeito pensante é condicionado por outro contexto histórico. E com isso não se quer dizer que o modo de filosofar, entendido como uma forma de pensar peculiar, que possui entre outras características, a sistematicidade, a rigorosidade e a conceitualidade, se transforme simples ou radicalmente, pois este sim é invariavelmente universal.
O que de fato se deseja aqui é anexar ao substantivo Filosofia, o adjetivo Brasileira. Com isso se mantém o caráter universal da Filosofia intacto ao mesmo tempo em que se reivindica o caráter particular da mesma, em duplo aspecto; o sujeito que pensa os problemas concretos de forma abstrata e tem consciência disso e a cultura da qual esse pensamento emerge, cultura que supõe uma política, uma história e uma sociedade. Para que se possa despertar o interesse de pesquisa e se possa dizer Filosofia Brasileira sem emergir a ojeriza geral da mesma forma que se diz Filosofia Alemã, Francesa, Italiana, Americana, entre outras.
Dessa forma, nasce o Núcleo de Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano - NUFIB em 26 de fevereiro de 2010 com os objetivos acadêmicos de suscitar o interesse de pesquisa e, concomitantemente, a divulgação da produção filosófica brasileira com suas peculiaridades histórico-sociais e, ainda investigar, minimamente, o pensamento latino-americano. Obviamente sob a hipótese supramencionada de alteridade do sujeito pensante brasileiro e latino-americano em relação à totalidade arrolada pela filosofia europeia.
E para que tal seja possível o trabalho de ordem prática e estrutural se faz e fez urgente tais como; contabilização do acervo da Biblioteca de Ciências Humanas de obras que tratem do tema da Filosofia Brasileira, organização de acervo digital e físico e disponibilização para os estudantes, constatação das instituições que atuem nesse mote e, sobretudo propor junto a Pró- Reitoria de Graduação da Universidade Federal do Ceará-UFC uma ementa de disciplina na qual seja estudada a história da Filosofia no Brasil e o Pensamento Latino-Americano, o que ocorre atualmente em algumas instituições publicas federais no âmbito da Filosofia Brasileira. Tais como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade de Brasília.
Assim como ocorre em instituições de ensino superior por toda a América latina que de uma forma ou outra se preocupam com o pensamento latino-americano ou como disciplinas regulares das graduações e pós-graduações ou como grupos de estudos englobados por tais instituições. Como na Universidade de Buenos Aires na Argentina, na Universidade Nacional Autônoma do México no México, na Universidade do Chile no Chile, na Universidade Bolívar-Mártir na Venezuela e na Universidade de Havana em Cuba. Em tais universidades a Filosofia nacional é investigada na esteira das Ciências humanas que indica uma possível estratégia de construção de uma identidade particular para isso convergindo, sobretudo, Filosofia, Política, História e Antropologia.
No Brasil, no entanto, e felizmente o interesse pela Filosofia Brasileira não se restringe às iniciativas das universidades. Temos instituições criadas fora desse âmbito docente entre elas: o Instituto Brasileiro de filosofia criado em 1949 em São Paulo por Miguel Reale, o Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro organizado em 1983 em Salvador por Antônio Paim, a Academia Brasileira de Filosofia criada em 1989 no Rio de Janeiro por iniciativa de Jorge Jaime e o Centro de Filosofia Brasileira criada em 1998 e coordenado por Luiz Alberto Cerqueira, como exceção, criado no interior da Universidade Federal do Rio de Janeiro com o qual fizemos contato para troca de experiências.
O Núcleo de Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano – NUFIB acredita que o incentivo à pesquisa protagônica por parte dos estudantes do que é produzido por nossos pensadores nacionais pode contribuir para ressignificar a Filosofia e dar um sentido à Filosofia Brasileira no sentido estrito assumido aqui. Não como uma forma de pensar radicalmente original, entretanto como uma razão independente que se volta para a realidade do sujeito cognoscente ou epistemológico. Dessa forma é possível falar em Filosofia Brasileira.
Embora seja verdade que a produção filosófica brasileira, quando comparada a toda tradição, seja de certa forma escassa. Ainda assim temos um montante de obras produzidas por pensadores nacionais que tratam do tema Filosofia brasileira não insignificante. Entre outras estão: Histórias das idéias filosóficas no Brasil de Antônio Paim (1976); Contribuição à história das idéias no Brasil de João Cruz Costa (1956); Panorama da filosofia no Brasil de Luís Washington Vita (1969); Filosofia em São Paulo de Miguel Reale (1976); Antologia do pensamento social e político no Brasil de Luís Washington Vita (1968); As idéias filosóficas no Brasil de Adolpho Crippa (1968); O humanismo brasileiro de Vamireh Chacon (1980); O nacionalismo no pensamento filosófico: aventuras e desventuras da filosofia no Brasil de Lídia Maria Rodrigo (1988); História da filosofia no Brasil de Jorge Jaime (1997); A filosofia contemporânea no Brasil de Antônio Joaquim Severino (1997) e Filosofia Brasileira: Ontogênese da consciência de si de Luiz Alberto Cerqueira (2002).
E no âmbito da literatura filosófica latino-americana temos entre as obras mais importantes: Despertar e projeto do filosofar latino-americano (1974) e Projeto e realização do filosofar latino-americano (1981) do peruano Francisco Miró Quesada e Discurso desde a marginalização e a barbárie: A filosofia latino-america como Filosofia pura e simplesmente (2005) do mexicano Leopoldo Zea.
É com grata surpresa que nós do Núcleo de Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano – NUFIB tomamos conhecimento desse número de obras que tem como tema a Filosofia Brasileira e das instituições brasileiras que se interessam pelo mesmo tema em âmbito nacional. Tal surpresa se potencializa em função do fato de que na Universidade Federal do Ceará-UFC o mencionado tema é totalmente ignorado.
Nestas obras tanto em âmbito brasileiro como latino, de modo geral, o problema dos pensadores gira em torna da possibilidade de uma Filosofia nacional em confronte com o caráter universal da mesma. Obviamente as sutilezas são produzidas a partir desse núcleo duro dependendo da forma com a qual cada autor formule sua questão e a responda. O que grosso modo corresponde à inserção do sujeito cognoscente que por sua vez supõe uma cultura, uma política e uma sociedade na abstração genérica, ou seja, a Filosofia universal abstrata surge no interior de condicionantes concretos, nesse sentido. Para além de uma atitude simplesmente de negação da Filosofia universal é, antes uma confirmação que, no entanto, reclama o aspecto particular, a consciência de si do sujeito que pensa.
É dessa forma que a Filosofia Brasileira e o Pensamento Latino-Americano podem contribuir para ressignificar e dar um sentido à Filosofia, sobretudo, para alunos iniciantes de graduações na medida em que se volta sobre uma realidade concreta, contudo sem afetar seu caráter universal que a define.
Com isso se pode ratificar que a filosofia Brasileira e o Pensamento Latino-Americano são uma realidade tanto pela produção conceitual indexada na atualidade condicionante da forma específica de pensar como pela discussão embasada por conceitos a respeito da existência da Filosofia Brasileira e do Pensamento Latino-Americano.

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