quinta-feira, 28 de outubro de 2010

NÚCLEO DE PESQUISA EM FILOSOFIA BRASILEIRA E PENSAMENTO LATINO AMERICANO
O Núcleo de Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano pretende elucidar a originalidade do pensamento filosófico presente em nosso continente, buscando minuciosamente qual é seu objeto de estudo. Através do NUFIB estaremos criando uma perspectiva bem mais ampla de incentivar, divulgar e pesquisar as obras de filósofos brasileiros e latino-americanos, e ao analisar e refletir sobre a existência de um pensamento filosófico genuinamente latino-americano, o Núcleo pretende incitar os estudantes a olhar a nossa realidade, produzir um pensamento filosófico a partir de nosso entorno.
O Núcleo tem como objetivo a fomentação da reflexão da pesquisa de filósofos brasileiros, de pensadores latino-americanos e da produção intelectual acerca da realidade de nosso continente, e a fixação de um diálogo com outros estudantes ou grupos de pesquisa latino-americanos para a troca de ideias e experiências. Ao longo dos últimos meses vem sendo pesquisado material filosófico nacional e latino-americano, que é utilizado para a composição de um acervo digital, composto de obras originais, artigos, comunicações, teses e reportagens sobre o assunto, dentre outros materiais de pesquisa. Um dos projetos idealizados e concretizados pelo Núcleo, foi a criação de um grupo de estudos sobre Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano, que utiliza a colaboração dos membros do NUFIB, no sentido da contribuição de cada bolsista para a construção de um conhecimento mais conciso sobre o assunto estudado. Além disso, vem sendo construído um projeto para a criação de um programa de disciplina para uma proposta de implementação da disciplina História da Filosofia Brasileira no curso de Filosofia

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

IV SEMINÁRIO INTERNACIONAL FARIAS BRITO

PROGRAMAÇÃO DO SEMINÁRIO:

23/08/2010 (segunda-feira)

10:00 Abertura/Homenagem ao Professor Antônio Paim

10:30 Conferência Farias Brito: "Preservação do Patrimônio Bibliográfico da Filosofia Brasileira" - Antônio Paim (Instituto de Humanidades)

12:00 Intervalo

14:00 "A Crise Estética no Brasil Oitocentista como Expressão de Uma Experiência Crítica" - Luiz Alberto Cerqueira (UFRJ)

15:00 Mesa-Redonda: "Antero de Quental, Sampaio Bruno e Anti-Positivismo em Portugal"

José Esteves Pereira (Universidade Nova de Lisboa)

Manuel Rosa Gonçalves Gama (Universidade do Minho)

Debatedor Luiz Alberto Cerqueira (UFRJ)



Local: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais-IFCS - Sala Celso Lemos (3º andar) -

Telefone: (21) 2224-6379 - Largo de São Francisco de Paula, 1 - Rio de Janeiro - RJ

Inscrição GratuitaPara emissão do certificado: nome completo, curso, instituição

(enviar para: marciojosefc@terra.com.br)

FONTE:(http://filosofiabrasileiracefib.blogspot.com)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Enrique Dussel e o Outro

Ao longo da história da filosofia, "de Parmênides até Heidegger", o Ser teve lugar principal na teorização, e o Outro foi paulatinamente esquecido. A Filosofia da Libertação questiona a exclusão do Outro, que a, nível global, divide o mundo em humanidade e humanidade do sul.
Filhos de seu tempo, Dussel e Lévinas trabalham ambos no sentido de resgatar essa dimensão negada pelo Ser e pela Totalidade, a saber, o que não cabe nessa totalidade.
A partir daí, Dussel tece a sua teoria de Libertação, libertação essa promovida pela tomada de consciência do outro de sua dignidade humana.
É, em termos curtos, amor dedicado ao outro,compreensão do outro enquanto inalienavelmente outro e amor pelo outro.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Formada em Filosofia pela PUC de Campinas, mestra pela Unimep pela Unicamp, a professora Lídia Maria Rodrigo, autora de obras como Aventuras e Desvanturas da Filosofia no Brasil: O Nacionalismo no Pensamento Filosófico (1988) e Maquiavel: Educação e Cidadania (2002), esteve na UFC em ocasião do minicurso Filosofia no Ensino Médio: Metodologia e Práticas de Ensino, evente organizado pelo PIBID Filosofia UFC e efetivado por, além dos nossos colegas, representantes das modalidades e núcleos do Curso de Filosofia: licenciandos, bacharelandos, mestrandos, e também nossos colegas e "irmãs dofício" da Estadual do Ceará. Ocorrido nos dias 26 e 27 de Abril de 2010, os eventos contaram também com uma conferância de encerramento, onde a mesma professora Lídia Rodrigo dissertou sobre "A Revolução Cientifica Moderna e suas Consequências Epistemológicas", além de dar a entrevista a seguir para o NUFIB. Feita através da internet, o NUFIB a publica agora, com perguntas que volitam em torno do tema primeiro do nosso núcleo, a saber, a afirmação de uma filosofia brasileira, e respostas sinceras e coerentes com o que pensa a pesquisadora de São Paulo. Podemos concluir que o tema, embora debatido, ainda tem muito que ser avaliado. Com isso damos voz a Lídia Maria Rodrigo:

NUFIB: Considerando o fato de que muitos pensadores brasileiros afirmam que não existe Filosofia brasileira original, no sentido de uma forma rigorosa e metódica de organizar o pensamento e as idéias, como a senhora se posiciona perante a esta questão de afirmação ou negação de uma Filosofia brasileira?

Lídia:Parece extremamente problemático subordinar a reflexão filosófica a uma nacionalidade, qualquer que ela seja. O saber filosófico, mesmo que elaborado por filósofos que possuem uma nacionalidade, sempre se caracterizou pela universalidade, transcendendo fronteiras nacionais. Assim, para voltar ao início, as reflexões elaboradas pelos gregos sobre a metafísica, a cosmologia, a antropologia, a lógica, etc., tematizaram a experiência e o modo de organizar o pensamento dos homens da cultura ocidental e não dos gregos exclusivamente. Podemos dizer que sua filosofia é adjetivamente grega, mas não substantivamente grega. Do mesmo modo, podemos falar de filosofia adjetivamente brasileira, na medida em que há autores ou pensadores de nacionalidade brasileira, mas não de uma filosofia substantivamente brasileira, isto é mediatizada pela categoria nação, sob pena de descaracterizar completamente o saber filosófico.

NUFIB:Como você analisaria os argumentos que fundamentam as posições de afirmação e negação ao pensar independente brasileiro?

Lídia:A demanda por uma filosofia ligada à realidade nacional tem estado presente nos países latino-americanos há várias décadas. Habitualmente ela vem acompanhada de um questionamento da dependência cultural que esses países vivenciaram, (principalmente com a experiência da colonização, mas também depois dela) e alimenta-se da esperança de criar projetos e obras que apontem para a autonomia cultural e intelectual, como expressão da originalidade e singularidade do modo de ser nacional. Em minha dissertação de Mestrado analisei o momento em que essa reivindicação se manifestou de maneira mais forte no Brasil, na segunda metade da década de 1950 e início da de 1960. Nesse período, no quadro da ideologia nacional-desenvolvimentista – que pretendia romper com a dependência econômica e conquistar a autonomia por meio de um desenvolvimento industrial apoiado, sobretudo, no capital nacional - Álvaro Vieira Pinto formulou a proposta de elaboração de uma filosofia original e autônoma, com base na reflexão sobre a realidade nacional. Os resultados dessa pesquisa me levaram a concluir que a questão da relação entre realidade nacional e produção cultural coloca-se de modo diverso nos diferentes âmbitos da cultura. A realidade nacional encontra uma expressão mais apropriada na literatura, na música popular, no teatro, no cinema. Na filosofia e na ciência não é possível estreitar os vínculos entre conhecimento e realidade nacional, sem cair na ideologização do saber científico e filosófico ou incorrer num nacionalismo epistemológico sem sentido.

NUFIB:Em relação às instituições de ensino superior brasileiras que nos últimos anos demonstram uma preocupação crescente com esse tema (Filosofia brasileira) tanto nas graduações como em programas de pós-graduação, como você considera esse processo importante para pelo menos mitigar a ojeriza que esse tema causa a parte da maioria de nossos pensadores nacionais?

Lídia:A preocupação com esse tema não parece ser tão significativa atualmente. Creio que ela já esteve mais presente no Brasil, na segunda metade dos anos de 1950 até o início da década de 1970. Penso que só se pode anexar o termo “brasileira” à filosofia como adjetivo. A reflexão filosófica de melhor qualidade é constituída de estudos sobre a história da filosofia, produzida por pensadores brasileiros, em geral vinculados às universidades públicas, instituições que estimulam e apóiam a produção intelectual, e agências de pesquisa. De fato, não há no Brasil pensadores que tenham produzido teorias originais ou novos sistemas de pensamento filosófico, assim como não há em muitos outros países, sem que isso precise resultar em qualquer complexo de inferioridade. A esse respeito, a professora Marilena Chauí, sem dúvida um dos nomes mais respeitáveis na área, numa entrevista em que foi chamada de filósofa, fez a correção: “Não sou filósofa, mas historiadora da filosofia”. É preciso levar em conta que não temos uma tradição filosófica antiga e sólida, como muitos países europeus. O cultivo sério e rigoroso da filosofia entre nós é muito recente. Mesmo assim, já contamos com um bom número de estudiosos sérios e competentes, que têm publicado pesquisas significativas no âmbito da história da filosofia.


NUFIB:Quanto ao Núcleo de Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano (NUFIB), que surge com a problematização e conseqüentemente, uma investigação acerca se existe, o que é e como se manifesta a Filosofia brasileira e como você julga a importância de grupos como o nosso, nesse sentido de resgatar uma pesquisa acerca desse tema.


Lídia:Toda pesquisa séria é válida e ela costuma ser mais produtiva quando congrega um grupo que possui afinidade intelectual e preocupações comuns. Eu já me coloquei essas questões e dediquei-me à sua pesquisa em dissertação de Mestrado, publicada pela editora Vozes, num livro intitulado “O nacionalismo no pensamento filosófico: aventuras e desventuras da filosofia no Brasil”. Esse trabalho foi muito importante para encontrar respostas que satisfizessem minhas indagações e necessidades intelectuais naquele momento. Espero que o grupo de vocês encontre a mesma satisfação com o trabalho que desenvolve. O importante, como em toda e qualquer pesquisa, é não se apegar a determinadas ideias e teses, mas manter o espírito investigativo sempre aberto para novas possibilidades, inclusive a disposição para acolher ideias que possam vir a contestar nossas hipóteses iniciais.


NUFIB:A partir de quando podemos falar de uma produção filosófica originalmente brasileira,isto é, supondo que há uma? E nesse sentido, qual a contribuição dos nossos colonizadores, desde os jesuítas até a missão que fundou a USP?


Lídia:Nossos colonizadores fizeram da filosofia um instrumento a serviço da catequese religiosa e do projeto de dominação colonial do Estado português. Até meados do século XVIII, o ensino de filosofia no Brasil esteve nas mãos dos padres jesuítas. Essas circunstâncias determinaram os conteúdos e métodos de ensino da filosofia no Brasil colônia. A idéia pedagógica básica defendida pela Companhia de Jesus consistia na reafirmação da tese medieval da subordinação da filosofia à teologia. Tratava-se de uma filosofia conservadora, que refletia o monopólio do pensamento escolástico-jesuítico em Portugal. Ao contrário do que acontecia em outros países europeus, em Portugal a escolástica predominou até meados do século XVIII, privando os intelectuais de um contato com a filosofia moderna. Os jesuítas eram hostis ao pensamento moderno: à Revolução Científica do século XVII, ao racionalismo cartesiano e ao empirismo. Mesmo depois da expulsão dos jesuítas, no século XVIII, o ensino da filosofia no Brasil continuou a ter um caráter religioso, livresco e baseado na mera reprodução de um saber que já vinha sistematizado da Europa. Até o século XX, quando foram criadas as Faculdades de Filosofia , os professores de filosofia eram clérigos, advogados, literatos. Só no século passado começou a haver professores especializados em filosofia, isto é, graduados e/ou licenciados. Foi um processo lento e difícil de formação de pessoas que tivessem condições de produzir estudos sérios e significativos no campo da filosofia. Considerando os obstáculos enfrentados no passado, temos de reconhecer que progredimos muito e hoje desfrutamos de um quadro muito promissor em relação à pratica da filosofia no Brasil.


NUFIB:Que problemas, hoje, podem impedir uma produção filosófica Brasileira? Terá isso ligação com as quase quatro décadas de suplantação da Filosofia no período formador de adolescentes no Brasil?


Lídia:O termo “suplantação” não faz muito sentido na frase. Não será “supressão”, em referência ao período em que a filosofia esteve ausente do ensino médio? De fato, nesse período os estudos, pesquisas, publicações e eventos científicos relacionados à filosofia sofreram uma redução drástica em todo o país. Toda a prática da filosofia foi afetada e não apenas o seu ensino no secundário. Esse fato significou um passo atrás em relação do árduo percurso que essa área do saber vinha trilhando, desde o período colonial. Os obstáculos de toda ordem que tem enfrentado, mostram que a filosofia constitui um campo de estudos pouco valorizado no Brasil do ponto de vista cultural, educacional e acadêmico, o que dificulta um fluxo de produção mais constante.


NUFIB:Que pensadores brasileiros você classificaria de acordo com as posturas assuntiva e afirmativa(classificação de Miró Quesada )e em qual delas você agrupa o círculo intelectual Brasileiro. Cite exemplos.


Lídia:Não tenho condições de responder a essa questão porque não conheço o trabalho desse autor nem as categorias com as quais ele trabalha.



NUFIB: Bom, professora o NUFIB agradece a entrevista gentilmente prestada, e faz saber que muito ela nos enriquece. Como “saideira”, pedimos um pequeno parecer sobre nosso trabalho de pesquisa e nossa tentativa de construção. Obrigado.


Lídia:Não tive a oportunidade de conhecer o trabalho que vocês desenvolvem no Núcleo e, por isso, não posso emitir nenhum parecer sobre ele. Ainda assim, posso dizer que, se esse tema solicita o interesse de vocês, apresenta interrogações e indagações que vocês consideram pertinentes, vale a pena investir seriamente no seu estudo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Grupo de Estudos NUFIB


Marcada para 12 de Maio de 2010, a abertura do Grupo de Estudos NUFIB inaugura também as atividades de extenção deste Núcleo. Objetivamos, com isso, a exposição do trabalho já feito, a incitação ao conhecimento dos autores nacionais e continentais, e também à inquietante questão pragmática da existência ou não de uma Filosofia eminentemente nossa. Para isso, convidamos a todas e todos que se interessem a, nessa próxima quarta-feira, participarem do nosso primeiro encontro. Estejamos lá!
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Cultura e Arte
Sala 03 do Curso de Filosofia
Av. da Universidade, 2995, 2° andar
Fortaleza - Ceará

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nuestro λόγος: Perspectivas para uma Filosofia genuinamente Latino-americana

Enfrentados com o problema "Haverá Filosofia Brasileira (Latino-Americana)?" muitos teóricos são francos em dizer que, se acham que sim, não é originalmente original.
Pensadores como Paulo Margutti, um afirmativo, entendem que, no caso do Brasil, o filosofar se confunde com a literatura, e, ilustres escritores, como Lispector, são verdadeiros filósofos.
Nesse sentido, o NUFIB se dapara como a incoveniente questão da existência ou não de um filosofar tipicamente tupiniquim, posto que, se não houver, nosso trabalho será considerado um desperdício.
Esperançosos, entretanto, de que estamos numa via segura para a aquisição de conhecimento filosófico nacional, delineiamos três horizontes para a nossa produção: Num primeiro, chegamos à conclusão de que Filosofia é Uma e Universal, Total, e o que produzem os teóricos na distante Alemanha é perfeitamente aplicável à nossa realidadde.
Um segundo mundo possível se nos faz, no sentido de que a Filosofia genuínamente brasileira existe, mas devido à diferença cultural e contextual com a Europa, ela acontece (se manifesta) literariamente. Desse modo, podemos conceber Machado de Assis como ontólogo, e Clarice como filósofa da linguagem, uma analítica.
A terceira perspectiva, é que há sim um padrão de pensamento em busca de uma integibilidade do real e suas implicações, com uma cara precisa e inalienavelmente nossa, um lógos nosso. Assim, pessoas como Raimundo Farias Brito, Tobias Barreto e Mathyas Aires são expoentes do nosso pensamento.
Pertinindo a essas três perspectivas, nós, Filosofantes Tupiniquins, esperamos alcançar uma orientação razóavel, no sentido de sanar essa dúvida cruel dúvida. Aguardamos ansiosos por tais "respostas", e também a contribuição de vocês.

Eis então um trecho da poesia Tu e Eu...

"(...)
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.
(...)"
de Luís Fernando Veríssimo.



Criado o logo do NUFIB



segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ordem e Progresso...

Criada em 1889, a bandeira nacional do Brasil, que, de certo modo, simboliza o nosso NUFIB, surgiu fortemente influenciada por uma tendência de pensamento mundial, denominada positivismo.
O teórico francês Auguste Comte, filósofo e "pai" da sociologia, ou física social, como chamava, entendia que a ciência positiva era o passo final de uma ascenção humana iniciada em termos teológicos, e depois metafísicos. Entenda-se ciência positiva como a ciência que a tudo experiencia, deixando entrelinhas o projeto de que, um dia, a ciência comprenderá e abarcará a totalidade do real, dispensando os saberes filosóficos, artísticos, religiosos, míticos, e, sobretudo, o senso comum e o saber da oralidade, da técnica, e não da episteme, em noções aristotélicas.
No Brasil, quatro vertentes se desenrolaram do positivismo comteano: uma versão ortodoxa; uma política; uma militar; e uma ilustrada. Diferenças à parte, todas reportavam-se ao ideal positivista.
Nessa conjuntura, certos pensadoras tornaram-se expoentes desse ideal. Júlio de Castilho, da vertente política, e grande influência teórica para Getúlio Vargas, concebeu um projeto positivista que levava às últimas consequências o projeto de eduação das massas, num estatismo militar que coerciria as pessoas para depois ilustrá-las com as luzes do positivismo. Representantes da corrente ilustrada, como Pedro Lessa, Paulo Egydio e Alberto Sales, pretendiam efetivar no Brasil a religião da humanidade, imaginada e teorizada por Comte, em que todos na humanidade desfrutariam dessa estável, infalível e irremovível ciência. Pessoas menos informadas poderiam adorar esse projeto, mas não saberiam de certos pressupostos, a maioria etnocêntricos com os valores europeus (ociendentais e burgueses) como referência, que o respaldam e arcabouçam.
Fruto de uma mentalidade isolada, em termos teóricos, não conseguia essa tentativa de sistematização transcender suas próprias limitações, nem mesmo entender limitações para o que pretendia, e precisamente por isso, demonstrou-se o fracasso da modernidade, algo sistematicamete trabalhado e discutido pelos Frankfurtianos.
Foi nesse ambiente, em que se esperava, em pouco tempo, solucionarem-se TODOS os problemas da espécie humana, que surgiram a antropologia e a sociologia, e a política ganhou sua ciência, na tríade constituída pelas ciências sociais.
Também essa época teórica influenciou fortemente a mentalidade brasileira, algo que poderia explicar como foi tardio o surgimento das universidades no país, mesmo com o reinado ilustrado de sua majestade o imperador Dom Pedro II.
É verdade que os intelectuais nordestinos, sobretudo os da Escola do Recife, contraporam-se ao projeto positivista no Brasil. Entretanto, este foi hegemônico, e isso marca profundamente nossa identidade, mesmo porque nossa bandeira nacional é um símbolo dessa filosofia.
Suas medidas representam harmonia e equilíbrio, ideais do intelectual positivista; sua constelação milimetricamente reproduzida pode ser interpretada como a positividade da natureza, que se dá ao homem, passiva, teórica como pragmaticamente; mas a principal referência é seu lema: Ordem e Progresso. A Ordem impigida pelo Estado, a Ordem mantenedora da sociedade, como fruto da civilização. O Progresso como resultado da ciência que a tudo entende, analisa, separa e compartimentiza; o Progresso: a ascenção da humanidade; o Progresso: a fé na ciência.
Felizmente, devido talvez à não-perticipação da sociedade brasileira como um todo dessa discussão, e seu residual não-saber desses pressupostos no lema da Badeira nacional, permitiram que o Brasil não fosse positivista em seu cerne, porque, enquanto nas cidades, nos círculos intelectuais, o país se entregava a essa filosofia que, anos depois, fundamentaria o nazi-facismo, nas ruas, no campo, nas pensões, onde a vida acontecia, as pessoas viviam num ideal quase mítico, entregue a uma cosmovisão sincrética, que, por vezes opôs-se à ciência onipotente.
Por isso, e malgrado quem pensou na bandeira nacional do Brasil, ela nos representa no mundo sem dizer que o Brasil é positivista, e, muito embora o cientificismo seja a hegemonia intelectual na atualidade, isso não quer dizer que creiamos, como o positivista, que a ciência não tem limites. Muito pelo contrário, nesses anos de crise, em que a sobrevivência da espécie mesmo está em xeque, nunca deixamos tanto de lado a ciência, e nunca cofiamos tanto nela na nossa cosmovisão - e ainda assim não nos aproximamos nem remotamente da soberba positivista. Pelo mesmo motivo, podemos dizer que o blogue do NUFIB não se identifica com Comte e o positivismo.


Dando bandeira..



Alás queria fazer mesmo uma provocação: que idéias, princípios filosóficos, valores e ideais alimentaram a construição dessa identidade brasileira e que vem simbolizada nessa bandeira?

quarta-feira, 31 de março de 2010

O Núcleo

Idealizado pelo professor José Maria Arruda, o Núcleo de Filosofia Brasileira e Pensamento Latino-Americano (NUFIB), surge em 2010 como o ambiente da UFC dedicado ao estudo do que se produz e foi produzido pelo intelecto filosófico da América Latina, dando especial enfoque ao que é feito no Brasil.
Contando atualmente com dois bolsistas, o NUFIB pleiteia em breve se abrir para vonlutários que desejem participar dessa construção, sobretudo aqueles que entendem que já é tempo de voltarmos nossas devidas atenções a nós mesmos e a nossos vizinhos, e mudar essa histórica postura de dar às costas a América Latina.
Neste ambiente em que as regiões do mundo passam pela integração, sempre mais profícua, é interessantíssimo que os estudantes do Ceará saibam do rico patrimônio filosófico que lhes pertence, enquanto cearenses e enquanto latino-americanos, posto que a nossa região aponta para a integração cada vez mais efetiva: as conquistas do Mercosul/Mercosur, a criação da Unasul/Unasur, e o projeto de criação de mecanismo internacional que agrupe em si as nações irmãs da América Latina.
Nasce assim o NUFIB com o potencial incrivelmente vasto e com a tarefa, às vezes, extenuante e grandiosa, sim, de resgatar para a UFC o interesse e os estudos sobre esse tema até hoje relegado à irrelevância: Nosso Filosofar, Nosso Pensamento.
Com o projeto de criação de uma disciplina de História da Filosofia Brasileira, levantamento de acervo em busca do que temos já sobre o tema, projeto de reedição da obra de Raimundo Farias Brito, o cearense patriarca da Filosofia na América Latina - Segundo a definição de Francisco Miró-Quesada -, formação de seminários, congressos, minicursos, re-integração entre os estudantes da UFC e da UECE, por uma lado, e, por outro, do curso de Filosofia com o de Ciências Sociais, projetos de entrevista e compêndio de textos para publicação, virtual e fisicamente, e, quiçá futuramente, a integração física com estudantes de outros países, no sentid de convênios, viagens de conhecimento e intercâmbio, com grandes universidades como a UNAM, no México; a de Buenos Aires, na República Argetina; a de Santiago, no Chile, e outras; são todos projetos que visam esse resgate da nossa história filosófica e reformulação de nossa identidade intelectual enquanto continente, que nascemos.
Agradecemos a leiura, e contamos com sua participação.