segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nuestro λόγος: Perspectivas para uma Filosofia genuinamente Latino-americana

Enfrentados com o problema "Haverá Filosofia Brasileira (Latino-Americana)?" muitos teóricos são francos em dizer que, se acham que sim, não é originalmente original.
Pensadores como Paulo Margutti, um afirmativo, entendem que, no caso do Brasil, o filosofar se confunde com a literatura, e, ilustres escritores, como Lispector, são verdadeiros filósofos.
Nesse sentido, o NUFIB se dapara como a incoveniente questão da existência ou não de um filosofar tipicamente tupiniquim, posto que, se não houver, nosso trabalho será considerado um desperdício.
Esperançosos, entretanto, de que estamos numa via segura para a aquisição de conhecimento filosófico nacional, delineiamos três horizontes para a nossa produção: Num primeiro, chegamos à conclusão de que Filosofia é Uma e Universal, Total, e o que produzem os teóricos na distante Alemanha é perfeitamente aplicável à nossa realidadde.
Um segundo mundo possível se nos faz, no sentido de que a Filosofia genuínamente brasileira existe, mas devido à diferença cultural e contextual com a Europa, ela acontece (se manifesta) literariamente. Desse modo, podemos conceber Machado de Assis como ontólogo, e Clarice como filósofa da linguagem, uma analítica.
A terceira perspectiva, é que há sim um padrão de pensamento em busca de uma integibilidade do real e suas implicações, com uma cara precisa e inalienavelmente nossa, um lógos nosso. Assim, pessoas como Raimundo Farias Brito, Tobias Barreto e Mathyas Aires são expoentes do nosso pensamento.
Pertinindo a essas três perspectivas, nós, Filosofantes Tupiniquins, esperamos alcançar uma orientação razóavel, no sentido de sanar essa dúvida cruel dúvida. Aguardamos ansiosos por tais "respostas", e também a contribuição de vocês.

Eis então um trecho da poesia Tu e Eu...

"(...)
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu, piniquim.
Eu, ropeu.
(...)"
de Luís Fernando Veríssimo.



Criado o logo do NUFIB



segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ordem e Progresso...

Criada em 1889, a bandeira nacional do Brasil, que, de certo modo, simboliza o nosso NUFIB, surgiu fortemente influenciada por uma tendência de pensamento mundial, denominada positivismo.
O teórico francês Auguste Comte, filósofo e "pai" da sociologia, ou física social, como chamava, entendia que a ciência positiva era o passo final de uma ascenção humana iniciada em termos teológicos, e depois metafísicos. Entenda-se ciência positiva como a ciência que a tudo experiencia, deixando entrelinhas o projeto de que, um dia, a ciência comprenderá e abarcará a totalidade do real, dispensando os saberes filosóficos, artísticos, religiosos, míticos, e, sobretudo, o senso comum e o saber da oralidade, da técnica, e não da episteme, em noções aristotélicas.
No Brasil, quatro vertentes se desenrolaram do positivismo comteano: uma versão ortodoxa; uma política; uma militar; e uma ilustrada. Diferenças à parte, todas reportavam-se ao ideal positivista.
Nessa conjuntura, certos pensadoras tornaram-se expoentes desse ideal. Júlio de Castilho, da vertente política, e grande influência teórica para Getúlio Vargas, concebeu um projeto positivista que levava às últimas consequências o projeto de eduação das massas, num estatismo militar que coerciria as pessoas para depois ilustrá-las com as luzes do positivismo. Representantes da corrente ilustrada, como Pedro Lessa, Paulo Egydio e Alberto Sales, pretendiam efetivar no Brasil a religião da humanidade, imaginada e teorizada por Comte, em que todos na humanidade desfrutariam dessa estável, infalível e irremovível ciência. Pessoas menos informadas poderiam adorar esse projeto, mas não saberiam de certos pressupostos, a maioria etnocêntricos com os valores europeus (ociendentais e burgueses) como referência, que o respaldam e arcabouçam.
Fruto de uma mentalidade isolada, em termos teóricos, não conseguia essa tentativa de sistematização transcender suas próprias limitações, nem mesmo entender limitações para o que pretendia, e precisamente por isso, demonstrou-se o fracasso da modernidade, algo sistematicamete trabalhado e discutido pelos Frankfurtianos.
Foi nesse ambiente, em que se esperava, em pouco tempo, solucionarem-se TODOS os problemas da espécie humana, que surgiram a antropologia e a sociologia, e a política ganhou sua ciência, na tríade constituída pelas ciências sociais.
Também essa época teórica influenciou fortemente a mentalidade brasileira, algo que poderia explicar como foi tardio o surgimento das universidades no país, mesmo com o reinado ilustrado de sua majestade o imperador Dom Pedro II.
É verdade que os intelectuais nordestinos, sobretudo os da Escola do Recife, contraporam-se ao projeto positivista no Brasil. Entretanto, este foi hegemônico, e isso marca profundamente nossa identidade, mesmo porque nossa bandeira nacional é um símbolo dessa filosofia.
Suas medidas representam harmonia e equilíbrio, ideais do intelectual positivista; sua constelação milimetricamente reproduzida pode ser interpretada como a positividade da natureza, que se dá ao homem, passiva, teórica como pragmaticamente; mas a principal referência é seu lema: Ordem e Progresso. A Ordem impigida pelo Estado, a Ordem mantenedora da sociedade, como fruto da civilização. O Progresso como resultado da ciência que a tudo entende, analisa, separa e compartimentiza; o Progresso: a ascenção da humanidade; o Progresso: a fé na ciência.
Felizmente, devido talvez à não-perticipação da sociedade brasileira como um todo dessa discussão, e seu residual não-saber desses pressupostos no lema da Badeira nacional, permitiram que o Brasil não fosse positivista em seu cerne, porque, enquanto nas cidades, nos círculos intelectuais, o país se entregava a essa filosofia que, anos depois, fundamentaria o nazi-facismo, nas ruas, no campo, nas pensões, onde a vida acontecia, as pessoas viviam num ideal quase mítico, entregue a uma cosmovisão sincrética, que, por vezes opôs-se à ciência onipotente.
Por isso, e malgrado quem pensou na bandeira nacional do Brasil, ela nos representa no mundo sem dizer que o Brasil é positivista, e, muito embora o cientificismo seja a hegemonia intelectual na atualidade, isso não quer dizer que creiamos, como o positivista, que a ciência não tem limites. Muito pelo contrário, nesses anos de crise, em que a sobrevivência da espécie mesmo está em xeque, nunca deixamos tanto de lado a ciência, e nunca cofiamos tanto nela na nossa cosmovisão - e ainda assim não nos aproximamos nem remotamente da soberba positivista. Pelo mesmo motivo, podemos dizer que o blogue do NUFIB não se identifica com Comte e o positivismo.


Dando bandeira..



Alás queria fazer mesmo uma provocação: que idéias, princípios filosóficos, valores e ideais alimentaram a construição dessa identidade brasileira e que vem simbolizada nessa bandeira?